24 dez 2016
10h26
O aperto no orçamento levou mais famílias a trocarem os filhos de
escolas particulares para a rede pública estadual do Rio de Janeiro. A
primeira fase de novas matrículas terminou na quinta-feira (22), às
23h59 e, segundo a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc), para o ano
letivo de 2016 houve 27.357 inscrições de alunos que estudavam na rede
privada, enquanto para 2017, o número atingiu 32.350.
O secretário de Estado de Educação, Wagner Victer, destacou que este é
um movimento que vem ocorrendo desde 2014 e, por isso, a Seeduc se
preparou para receber os novos alunos, que este ano representaram uma
demanda maior. Victer revelou que, dentro do planejamento para 2017, que
durou quase seis meses, já havia a expectativa de crescimento na ordem
de 15%.
"Estamos aptos a atender, em função até da otimização que a gente faz
de turmas e de escolas. Tínhamos algumas escolas com salas ociosas, além
da aplicação dos nossos recursos humanos. Vamos atender tranquilamente
este crescimento que é um crescimento significativo", disse à Agência
Brasil.
Victer afirmou que a rede pública também tem se esforçado para melhorar
o conteúdo e as condições de ensino para diminuir a diferença com a
rede privada.
De acordo com o secretário, nos últimos anos os dados têm mostrado que a
distância tem se reduzido. "Há problemas também na rede privada e temos
que trabalhar para, permanentemente, melhorar a rede pública. Mas temos
também centros de excelência na rede pública. Na semana que vem vamos
abrir vagas para 30 novas escolas em municípios muito pobres com ensino
integral e voltadas para o empreendedorismo. Na maioria desses
municípios sequer existe ensino privado em ensino integral", afirmou.
Aperto econômico
O economista da Fundação Getulio Vargas, André Braz, disse que a fuga
das famílias da rede privada é decorrente do aperto econômico, agravado
pela recessão, que vem se formando desde 2014 e que se manifesta no
aumento da taxa de desemprego. "Como o desemprego agora está no auge e
há previsão de que possa avançar um pouco ainda nos próximos meses isso
também diminui a capacidade de pagamento das famílias e, então, tem
muita migração do privado para o público e essa migração é real, porque
se perde o emprego não tem condição de manter uma mensalidade escolar.
Isso é bem característico de momento de recessão", disse.
Impacto da educação no orçamento
André Braz afirmou, ainda, que a educação compromete cerca de 5% do
orçamento familiar, desde a creche ao nível superior, na média para
famílias de 1 a 33 salários mínimos mensais. Logo no início do ano, em
janeiro, as famílias sofrem, o impacto do reajuste das mensalidades de
2017. "O reajuste previsto para o ano que vem está na faixa de 10% a
12%, então, levando esse reajuste médio em consideração e pesando quase
5% dá para a gente ter um impacto da inflação de janeiro de
aproximadamente meio ponto percentual, só por conta do reajuste das
mensalidades escolares", afirmou.
O economista destacou ainda que, além do comprometimento do orçamento
com as mensalidades, há uma série de gastos indiretos com material e
transporte escolar e uniforme. "Todo o orçamento destinado à educação
supera os 5%, que são apenas os gastos com material escolar", completou.
Volta à escola
A procura por novas inscrições na rede pública do estado do Rio de
Janeiro refletiu também a dificuldade em conseguir emprego no estado.
Houve aumento relevante no número de pessoas que estavam afastadas dos
estudos. Enquanto em 2016, foram 3.852 inscrições, para 2017, aumentou
para 13.524 o total de candidatos, que fizeram cadastro pela internet em
busca de uma vaga nas salas de aula. "Acho que é uma perspectiva de que
hoje é necessário voltar a se qualificar para ingressar no mercado de
trabalho. O mercado estava muito ofertante em demanda e hoje reduziu a
demanda e as pessoas têm que se qualificar. Isso se dá em todas as
séries, mas está mais focado no ensino médio. É um detalhe muito
importante", ressaltou.
Total de inscrições
O total de novos pedidos de ingresso nas escolas de rede pública
estadual do Rio, para o próximo ano letivo, registrou um recorde de
inscrições. Foram 240.792, número superior ao registrado nas inscrições
para o ano de 2016, quando ficaram em 220.498 candidatos escolheram as
escolas públicas do estado. O secretário lembrou que, além das novas
inscrições, a rede pública liberou cerca de 537 mil vagas para a
renovação de matrículas dos alunos. Victer garantiu que a secretaria vai
atender a toda esta demanda.
"Não só temos condição como vamos atender. Na realidade, nós fizemos um
planejamento. Muitos ajustes foram feitos para atender esta demanda.
Vamos atender e não vai ter nenhum aluno que ficará sem vaga na rede
pública. Vamos atender, mesmo porque, na educação, apesar da crise o
governo tem dado uma atenção importante", concluiu.
Os municípios do Rio de Janeiro, de Nova Iguaçu, de Duque de Caxias, de
São Gonçalo, de Belford Roxo, de São João de Meriti, de Campos dos
Goytacazes, de Niterói, de Magé e de Angra dos Reis foram os dez que
mais receberam inscrições, realizadas por meio da página da Seeduc no
Facebook (www.facebook.com/SeeducRJ) e pelo site Matrícula Fácil
(www.matriculafacil.rj.gov.br).
Confirmação da matrícula
A Seeduc antecipou o dia em que os alunos já poderão saber as escolas
em que foram alocados. As informações estarão disponíveis no site
Matrícula Fácil a partir do dia 30 deste mês. Depois da divulgação da
lista, os interessados terão de 4 a 10 de janeiro de 2017 para confirmar
a matrícula na unidade em que foram selecionados.