Maglev-Cobra é opção contra o caos do trânsito nas grandes cidades brasileiras
Um trem compacto e leve, que dispensa rodas e trilhos e flutua
silenciosamente. Movido a energia elétrica, não emite gases de efeito
estufa, como os automóveis e ônibus. Desliza elegantemente sobre
esbeltas passarelas suspensas, que não competem pelo já congestionado
espaço das grandes cidades e cuja construção dispensa as caras e
impactantes obras civis dos metrôs e trens de superfície convencionais.
Assim é o Maglev-Cobra, o trem de levitação magnética que está em
desenvolvimento no Laboratório de Aplicações de Supercondutores (Lasup)
da Coppe. No laboratório, um modelo em tamanho real levita sobre uma
linha de 12 metros de extensão, enquanto aguarda a construção de uma via
demonstrativa de 200 metros, que será montada com recursos da Fundação
Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
(Faperj) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES).
O modelo em testes poderá transportar até 30 passageiros (cinco
passageiros por metro quadrado), mas o projeto é concebido para operar
em módulos, tantos quantos necessários para atender à demanda.
O coordenador do projeto, professor Richard Stephan, explica que,
embora o material levitante do Maglev seja quatro a cinco vezes mais
caro que o material rodante do metrô, as obras civis, os custos
operacionais e os custos de manutenção são menores. “A manutenção é mais
barata”, diz ele, “porque não há o atrito roda–trilho responsável pelo
desgaste dos trens convencionais”.
O Maglev-Cobra – que tem esse nome porque os módulos lembram os
“anéis” de uma cobra – obtém o efeito levitante com o uso de
supercondutores, uma classe de materiais que, embora conhecida desde o
início do século 20, só nas últimas décadas começou a ganhar aplicações
industriais. Projetado para correr a 70 quilômetros por hora, o trem é
ideal para percursos urbanos, substituindo ou complementando automóveis,
ônibus e metrôs.
Além de estar convencido da viabilidade econômica, o professor
Stephan aponta outros elementos a favor de seu projeto: a fabricação de
trens magnéticos no Brasil estimularia a instalação de uma indústria
local de ímãs de terras raras e de supercondutores. A matéria-prima é
abundante no Brasil, mas os produtos hoje são importados. Ele aposta até
num outro desdobramento: o estímulo ao estabelecimento de novos padrões
arquitetônicos e de transporte nas cidades.
No ano 2000, quando optaram por desenvolver um trem para uso urbano,
os pesquisadores da Coppe pareciam estar tomando uma decisão solitária,
na contramão dos projetos de trens magnéticos na Europa e na Ásia:
veículos com velocidades de até 500 quilômetros por hora, para unir
cidades a longas distâncias.
Passados mais de dez anos, vem a confirmação do acerto daquela opção.
Enquanto as linhas de longa distância e alta velocidade de trens Maglev
demonstram dificuldades para se expandir ou estabelecer, surgiu no
mundo uma forte tendência ao desenvolvimento de trens magnéticos
urbanos, porque as metrópoles, cada vez mais congestionadas, têm
dificuldades para ampliar seus sistemas de metrô sem perturbar ainda
mais a vida urbana. Grupos de pesquisa nos Estados Unidos, Alemanha,
China, Japão e Coreia do Sul desenvolvem um total de dez projetos de
trens magnéticos para uso nas cidades. No Japão, já existe uma pequena
linha comercial de 9 quilômetros em Nagoia, e a Coreia do Sul está
concluindo a construção de uma linha de 6 quilômetros para servir ao
aeroporto internacional de Incheon, em Seul.
Outra decisão da Coppe foi a opção pela técnica de levitação
magnética à base de supercondutores e ímãs permanentes, a qual só se
tornou possível depois que foram sintetizados, no fim do século 20, os
primeiros materiais supercondutores refrigerados a nitrogênio líquido e
os poderosos ímãs de terras raras. Os outros projetos de trens
magnéticos existentes no mundo, tanto para longas como para curtas
distâncias, utilizam duas técnicas de levitação desenvolvidas há mais
tempo: a eletromagnética, que se baseia em forças magnéticas atrativas
para obter o efeito levitante, e a eletrodinâmica, baseada em forças
magnéticas repulsivas. Os supercondutores e ímãs são mais caros que os
materiais usados na técnica eletromagnética, que está mais desenvolvida
hoje. Por outro lado, a levitação supercondutora se baseia em forças
estáveis, o que dispensa complexos aparatos de controle e segurança para
garantir a estabilidade de funcionamento do trem.
A aposta da Coppe na levitação supercondutora vem se mostrando
promissora. Grupos de pesquisa na Alemanha e na China também iniciaram
projetos nessa vertente na virada do século e negociam cooperação com os
pesquisadores brasileiros.
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